José Antonio Segatto. Cultura polÃtica e democracia. Curitiba: Ed. CRV, 2020.
Este livro é uma antologia de artigos e ensaios, pesquisas e estudos, elaborados e divulgados em momentos diferentes e para fins variados nas últimas décadas. Compõe-se, em sua maioria, de artigos (26) publicados no jornal O Estado de S. Paulo, escritos para tentar compreender e sugerir alternativas a problemas postos pela conjuntura no quinquênio 2014/19. Elaborados na forma de ensaios sucintos, abordam temas muito distintos: universidades públicas, teoria polÃtica, Estado e sociedade civil, partidos e eleições, organizações sindicais, esquerda e direita, revolução e reação, globalização, etc. - são, portanto, textos de intervenção polÃtica e seu norte é a defesa de valores e práticas democráticas e dos direitos de cidadania.
Os demais (16) textos, publicados originalmente como capÃtulos de livro ou artigos de revista, abarcam problemas como as relações entre literatura e história, o papel dos intelectuais, os militares e a polÃtica, as relações de trabalho, a práxis e a cultura polÃtica, além de outros assuntos. Todos eles, ressalte-se, têm a análise historicamente referenciada e fundamentada.Â
Foram agrupados em nove capÃtulos, por temas genéricos e dispostos numa sequência lógica. O primeiro aborda a relação entre literatura e história nos romances O leopardo, de G. T. di Lampedusa (cotejado com textos de A. Gramsci sobre o Risorgimento), Esaú e Jacó, de Machado de Assis, e o conto 1º de maio, de Mário de Andrade; examina como literatura e história, com métodos e meios, formas e linguagens distintas fornecem elementos essenciais para o conhecimento da realidade histórica e é complementado por uma resenha crÃtica do livro Martinha versus Lucrécia de Roberto Schwarz.
Segue-se um capÃtulo que analisa intelectuais de vários tipos e o papel que desempenharam na organização e difusão de culturas polÃticas: Antonio Gramsci, José Carlos Mariátegui, Caio Prado Júnior, Nelson Werneck Sodré e Octávio Ianni. Encerrando esse primeiro bloco, discutem-se os paradoxos e os problemas da universidade pública e os desafios para sua efetiva publicização e democratização.
Os cinco capÃtulos seguintes ocupam-se do processo histórico-polÃtico em sentido lato no Brasil. Têm como intuito a reflexão sobre as difÃceis relações entre Estado e sociedade civil, as vicissitudes de uma democracia limitada e contingente, a restrição dos direitos de cidadania, a reatualização da cultura polÃtica autoritária, a contenção do protagonismo dos subalternos, a dissociação entre representantes e representados, a judicialização da polÃtica, as instituições e poderes destituÃdos de fé pública, os partidos privados de ideais e compromissos cÃvicos, etc.
Fecha a coletânea um capÃtulo com quatro artigos. Os dois primeiros procuram indagar e avaliar como e por que as revoluções russa (1917) e cubana (1959), que inicialmente exerceram invulgar fascÃnio e despertaram mesmo esperança de emancipação dos subalternos no mundo todo, chegaram à contemporaneidade identificadas como regimes autoritário-burocráticos, opressores e hostis à democracia. O terceiro expõe os transtornos suscitados pelo processo de globalização que possibilitaram a emergência de concepções nacionalistas e conservadoras, populistas e reacionárias, xenófobas e racistas, criando condições para o surgimento e a ascensão ao poder de lÃderes e movimentos autoritários, incÃveis e anti-humanistas. O último trata dos muitos atentados terroristas promovidos por seitas polÃtico-religiosas em diversos paÃses e continentes, buscando explicá-los por meio de fatores histórico-polÃticos, tanto do passado secular quanto hodiernos.
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Professor titular de sociologia da Unesp
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