Na manhã de 15 de janeiro de 1975, Elson Costa, de 61 anos, responsável pelo setor de agitação e propaganda do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB), tomava café num bar ao lado de sua casa quando foi sequestrado por seis agentes dos órgãos de segurança do regime militar.
Alguns vizinhos tentaram protestar contra a ordem de prisão, pois, para eles, quem estava sendo preso era o aposentado Manoel de Souza Gomes, que vivia na Rua Timbiras,199, bairro de Santo Amaro, em São Paulo. Era o nome que usava na clandestinidade, conforme registro de ocorrência policial que fizeram na 11ª DP.
Elson Costa nunca mais apareceu, como outros dirigentes do antigo Partidão, entre eles o diretor do jornal Voz Operária, Orlando Bomfim Junior, 60 anos. Ele foi sequestrado em Vila Isabel, em 8 de outubro de 1975, quando ainda tentava reorganizar o aparelho de propaganda comunista. Desde 1973, o regime militar executava uma operação de cerco e aniquilamento do Comitê Central do PCB.
A direção do Partidão havia entrado em colapso depois que duas gráficas clandestinas foram localizadas e desmanteladas, uma em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, em dezembro do ano anterior (funcionava desde 1966), e outra no Cambuci, em São Paulo, em fevereiro de 1975.
Na onda de prisões que se seguiu, morreram na tortura em São Paulo o primeiro-tenente da PM-SP José Ferreira Almeida, o jornalista Vladmir Herzog e operário Manoel Fiel Filho, cujo assassinato levou ao afastamento do general Ednardo DÁvilla Mello do comando do II Exército.
Atitude suspeita
Em plena democracia, no poder há 12 anos, o Partido dos Trabalhadores (PT) corre o risco de ver a sua direção entrar em colapso por causa de uma gráfica de São Paulo, localizada pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato e que prestou serviços para o Palácio do Planalto e ministérios.
Não se trata de um aparelho clandestino para publicar um jornal, que era o que faziam os dois jornalistas que constam da lista oficial de desaparecidos da Comissão da Verdade. O PT sequer tem um jornal, embora critique muito a imprensa. Segundo o juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, a Editora Gráfica Atitude, de CNPJ 08.787.393/0001-37, era utilizada para lavar dinheiro de propina destinado às campanhas do PT, em 2010, 2011 e 2013.
"A utilização por João Vaccari da Editora Gráfica Atitude para recebimento e lavagem de ativos ilícitos destinados ao Partido dos Trabalhadores (PT)" é uma das principais acusações do pedido de previsão preventiva do tesoureiro do PT, que foi detido ontem quando fazia sua caminhada matinal em São Paulo e está preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba.
Segundo a delação premiada do executivo Augusto Mendonça, mediante indicações do ex-diretor da Petrobras Renato Duque e Vaccari, foram feitos pagamentos à gráfica no montante de R$ 2,5 milhões, dos quais a Polícia Federal conseguiu comprovar a efetivação de 14 pagamentos, no valor total de R$ 1,5 milhão.
Constam como proprietários da gráfica o Sindicato dos Bancários de São Paulo e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Juvândia Moreira Leite, presidente do primeiro, é a suposta administradora da empresa. Para complicar a situação, segundo a denúncia, a gráfica teria sido utilizada também para a realização de propaganda oficial ilícita em favor do Partido dos Trabalhadores na campanha eleitoral de 2010, de sua então candidata a presidente da República, Dilma Rousseff.
A prisão de Vaccari ontem surpreendeu o Palácio do Planalto e a cúpula do PT. Acreditava-se que ele responderia às acusações em liberdade, devido à inexistência de provas materiais que corroborassem as delações premiadas que o acusam de receber propina para as campanhas do PT.
Era sua palavra contra a do doleiro Alberto Yousseff, a do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa e a do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, todos réus confessos. A cúpula do PT decidiu mantê-lo no cargo por achar que isso "politizaria" as denúncias contra a legenda e que sua defesa seria também a do partido. Esse entendimento prevaleceu quanto ao seu depoimento na CPI da Petrobras, na semana passada.
Foi um crasso erro. A presidente Dilma Rousseff ontem estava à beira de um ataque de nervos por causa da prisão de Vaccari. Desde o fim do ano passado, Dilma defendia o afastamento do cargo do tesoureiro do PT, mas o presidente da legenda, Rui Falcão, resistia. A ordem de Dilma Rousseff é jogar Vaccari ao mar, mas a Executiva do partido e seus líderes no Congresso saíram em defesa do tesoureiro, que só pediu afastamento do cargo quando foi pra cadeia. Argumentam que ele é vítima de perseguição política, com objetivo de incriminar o PT e criminalizar as doações eleitorais que a legenda recebeu "legalmente" das empreiteiras investigadas na Lava-Jato.
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Luiz Carlos Azedo é jornalista.